domingo, setembro 30, 2007

No Portugal que tudo acaba - A última revista Premiere



Lisboa, 17 de Setembro de 2007

Caros (as) Amigos (as)

Há poucas horas lamentavelmente, recebi a informação de que a PREMIERE-A Revista de Cinema, vai ser descontinuada, sendo a edição de Outubro a última a chegar às bancas. Isto acontece numa altura, em que nos preparavamos com a capa de Novembro para comemorar 8 anos de lançamento em Portugal, estando a escassas 4 edições de celebrar o mítico número 100.

A PREMIERE é a única revista de cinema com distribuição regular que existe em Portugal, sublinhando que há mais de 30 anos uma revista de cinema não se mantinha tanto tempo no mercado. Tão importantes como os factos são os números e segundo os últimos dados do APCT, a circulação total da PREMIERE é de 18.180 exemplares e as vendas na ordem dos 16.913 exemplares, o que corresponde a uma audiência de 78.000 leitores (4 leitores por edição). A publicidade tem vindo a subir graças a um maior empenhamento da direcção comercial que entrou em funções no passado mês de Janeiro e, em particular ao Gonçalo Nascimento, o chefe de publicidade, que tem sido incansável quer a angariar anúncios, quer num trabalho de grande proximidade com a redacção procurando uma verdadeira complementaridade de interesses.

A decisão de a PREMIERE ser descontinuada, deve-se a facto da Hachette, agora Lagardère Global Media, ter tomado a decisão de abandonar os seus negócios em Portugal, vendendo os seus principais títulos Elle e Ragazza, à RBA Editores. A PREMIERE nem constou desse pacote de cedência de títulos, já que é aparentemente intenção do grupo francês descontinuar todas as edições internacionais em papel, como já aconteceu com a PREMIERE (EUA) que se mantêm on-line. A outra justificação para a descontinuidade da PREMIERE (Portugal) passa pelo elevado custo do título, que não se coaduna com a sua rentabilidade. Uma decisão que é no mínimo discutível, em primeiro lugar face aos números, que correspondem efectivamente a um nicho de mercado, mas a um nicho muito apetecível e interessante para a realidade portuguesa, ainda mais para uma revista especializada e única no mercado. Além disso, a estrutura da PREMIERE é minima, sendo constituída por três pessoas (José Vieira Mendes, Luis Salvado, Tiago Moleiro), dois jornalistas e um maquetista e os custos com as colaborações nacionais (cerca de 70% do conteúdo total) e internacionais são muito baixos, já que a impressão é feita em Espanha, aproveitando as cinergias do grupo.

Também me parece lógico que um produto que dê prejuízo seja rapidamente retirado do mercado e não aumente as expectativas que a PREMIERE criou aos seus leitores. Efectivamente houve uma drástica redução de custos que foi ultrapassada pela redacção com muita criatividade e uma espartana engenharia financeira, ao nível das colaborações externas. No entanto, não houve da parte da Hachette um verdadeiro investimento numa estratégia de marketing que sustentasse o crescimento do título e aumentasse a notoriedade de um produto de prestígio.

Lamento ainda esta situação, pelo enorme empenhamento pessoal desta pequena equipa que liderei e também pelos nossos colaboradores que são a alma da PREMIERE. Todos os meses a PREMIERE saia para a rua à custa de um inesgotável profissionalismo e dedicação. A PREMIERE é uma revista portuguesa, (e não feita à custa de traduções das edições estrangeiras), que tem procurando sempre um equilíbrio entre a qualidade, as características específicas do mercado português, uma grande diversidade de opiniões, sem se tornar fundamentalista da crítica cinematográfica. Tudo isto apesar dos recursos e meios para produzir uma revista, terem sido sempre escassos.

Resta-me a confiança de que os grupos de comunicação portugueses vão estar atentos a este vazio que fica no mercado e ao potencial de uma publicação desta natureza, que pode ser o suporte para outras plataformas. É assim que pensando de uma forma positiva e na revolução no mercado audiovisual em Portugal que se avizinha a muito curto prazo, e de uma já idealizada estratégia multiplataforma, (revista+internet+rádio+televisão) se abrirão novas oportunidades de negócio e de trabalho.

Fui efectivamente apanhado um pouco desprevenido, veja-se o meu editorial Viva a PREMIERE!, na edição de Maio de 2007, onde fiz o meu papel de defesa do projecto, quando encerrou a PREMIERE (EUA)!!!!) numa altura em que preparava um processo de expansão da marca e de mercado. Espero pois que projectos com a qualidade da PREMIERE, não definhem pela simples decisão de uma multinacional.

O site www.premiere.pt já está on-line desde meados de Fevereiro, assim como o blog (premiere-portugal.blogspot.com), um produto do qual nos orgulhamos, como espaço de discussão cinéfila e que foi concebido pela redacção, sem custos e desenvolvido pelo Bruno Ramos (Alvy Singer), um leitor que passou a colaborador da PREMIERE, por mérito próprio, como alias cinco jovens e actuais colaboradores.

Por último, a PREMIERE orgulha-se de ter atingido, em tão pouco tempo, o enorme respeito do público, dos leitores e do meio cinematográfico português e de ter ajudado uma fazer uma verdadeira revolução no mercado de cinema, na relação com a distribuição, e nas publicações e suplementos especializados. Recordo ainda que a PREMIERE, entre outras iniciativas às vezes aparentemente pouco relevantes, mas inteligentes em termos de posicionamento, como o apoio aos festivais de cinema nacionais, foi a primeira publicação no mercado português a associar a venda da revista à venda de DVD’s nas bancas.

Um grande abraço


José Vieira Mendes
Director/Editor-chefe da PREMIERE – A Revista de Cinema
Rua Filipe Folque, 40-4º
1069-124 Lisboa
tel. 21 316 42 57
tm. 91 986 33 32

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