terça-feira, setembro 04, 2007

Lua de Joana - Maria Teresa Maia Gonzales

Lisboa, 25 de Janeiro de 1994

Querida Marta,

Foi o pior Natal da minha vida. Sem ti, sem a avó Ju, o meu pai com gripe, de cama e, para piorar tudo, descobri uma coisa terrível: o Diogo anda a drogar-se!
Isto é tão horrível que nem me apetece continuar a falar do assunto, mas, por outro lado, preciso de desabafar. Tive uma conversa séria com a Rita (aquela conversa que eu já há muito tempo queria ter e ainda não tinha conseguido) e ela disse-me com a maior calma do mundo: «Olha, Joana, nós não te dissemos nada para tu não fazeres logo uma cena, Sabíamos que ias desatinar, quisemos poupar-te, até porque o Diogo está fixe, numa boa, mesmo. Pode parar quando quiser. Está tudo sob controle, estás a topar? Não há crise.»
Fiquei de boca aberta e, quando arranjei coragem, perguntei-lhes se ela também se drogava. Respondeu-me com a mesma voz calma de lagoa: «Eu já ando nisto há muito tempo, muito mais do que o Diogo, mas não sou parva, não sou nenhuma débil mental, sei parar quando devo. O que aconteceu com a Marta foi um grande azar e muita inexperiência. Comigo isso nunca aconteceria. Não curto histórias que acabam mal.»
Voltei a ficar de boca aberta.
Como é que fui tão estúpida que não percebi isto antes?! Estou arrasada. Não sei o que hei-de fazer nem sequer o que hei-de pensar. Nunca me senti tão desorientada em toda a minha vida. Tudo está a cair sobre mim. Quero um foguetão e um bilhete de ida para ir para Plutão!
Vou-me deitar. Não aguento mais tanta coisa horrível na minha cabeça. Um beijo com lágrimas (lágrimas são tudo o que posso dar-te neste Natal) da

Joana

Um pequeno resumo...

A Lua de Joana conta a história de uma rapariga chamada Joana que perdeu a sua melhor amiga Marta, vitima de overdose. Ao longo do livro, o leitor vai lendo o diário de Joana, onde ela conta a sua luta para sobreviver. Mas as mensagens no diário têm sempre o mesmo destinatário, a amiga que Joana perdeu. É uma história inquietante e trágica de como a droga afecta, não só a vida dos toxicodependentes, mas também a de todos aqueles que lhes são chegados.

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